Qualidade para a Educação

 

João Cláudio Todorov (*)

     Vivemos num país com 18 milhões de analfabetos e estamos quase meio século atrasados em relação à tendência mundial de expansão maciça do acesso ao ensino. Somos os campeões do analfabetismo no continente. É o oitavo do mundo, segundo dados da Unesco. Perdemos para a Índia para a China, Paquistão, Bangladesh, Indonésia, Irã e Nigéria.

     Lutamos por uma fatia maior do Produto Nacional Bruto para a Educação, o que é muito importante, mas é necessário ter uma plena consciência de que não adianta só investir dinheiro.

     Precisamos tratar com seriedade da qualidade da educação que está sendo dada aos brasileiros do século XXI. Hoje, a qualidade do ensino é o principal lema em educação no mundo inteiro. E a formação de uma mão-de-obra versátil e capacitada preocupa tanto os países desenvolvidos quanto a nós, do chamado terceiro mundo.

     Não sei se a escola, da forma como a conhecemos, vai morrer rapidamente, como acredita o pesquisador norte-americano Lewis Perelman, do Instituto Discovery, de Washington..

      Sei que as transformações agora visíveis foram preconizadas no início dos anos 60, em Brasília, na UnB, por outro norte americano, o nosso professor honoris causa Fred S. Keller.

     Concordo com o professor francês Michel Serres: as transformações que o rápido crescimento das tecnologias da informação e da comunicação estão provocando na sociedade moderna levam-nos impositivamente para o desenvolvimento do ensino a distância. É necessário, cada vez mais, que o saber comece a ir até as pessoas. E há que levá-lo.

     A experiência mundial vem demonstrando que o ensino a distância representa um grande potencial para o desenvolvimento de programas de capacitação e qualificação de professores.

     No Brasil, na maioria das Secretarias de Educação e das universidades há falta de recursos humanos qualificados capazes de desenvolver sistemas de educação a distância em escala compatível com as exigências do mundo moderno.

     É, nesse sentido, que o primeiro Curso de Especialização em Educação a Distância do País, que a Universidade de Brasília promoveu em janeiro de 1994, em convênio com o MEC, é simbólico. Hoje, ainda são apenas coordenadores e supervisores estaduais da área, mas foi um primeiro passo importante. Como foi a renovação feita pelo MEC no início dos anos 90 no campo da educação a distância, que evoluiu recentemente para o programa Um Salto para o Futuro.

     Breve, com certeza, serão outros educadores, de diferentes níveis, graus e modalidades, pois a educação a distância é uma tarefa a ser realizada basicamente como o que uniu o MEC e o Ministério das Comunicações, em maio passado, criando o Sistema Nacional de Educação a Distância no Brasil. E à qualidade se juntou, depois, o Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras, gerando o Consórcio Interunide Cooperação Técnico-Científica na área da Educação Continuada a Distância.

     Foi o esforço desse consórcio que deu origem ao curso que a Universidade de Brasília promove agora, mais orgulhosa do que nunca, do pioneirismo e da vanguarda que marcam a sua história.

     Já em 1962 o então reitor Darcy Ribeiro convidava os professores Carolina Martuscelli Bori, Rodolfo Azzi, Fred Keller e John Gilmour Sherman a ousar o ensino. A UnB, que então nascia, produziu daí o Sistema Personalizado de Ensino, ou Plano Keller, ou, como Keller ainda, nos seus 95 anos, prefere: o Plano Brasília.

     E, hoje, aí está o Centro de Educação Aberta, Continuada e a Distância – nosso Cead - , que já ultrapassou a marca dos 50 mil alunos em 13 anos de atividades. E que agora, muito breve, terá seu prédio próprio junto ao Parque Tecnológico da UnB, ao lado de uma empresa privada que nos dará o privilégio de acessar o BrasilSat.

     Foi como futura diretoria do Cead e representando os interesses da Capes que a professora Fátima Guerra esteve recentemente em Caracas, junto com a Professora Maria Rosa Abreu Magalhães, da Faculdade de Educação, e ajudou a definir a UnB como pólo brasileiro do Sistema de Rede Internet.

     A cátedra da Unesco em Ensino a Distância também já pode ser anunciada como nova conquista da Universidade de Brasília.

     Temos uma série de outras iniciativas que certamente crescerão depois do Fórum de Ensino a Distância, a ser realizado em março, que pretende reunir todos os órgãos sediados em Brasília e de alguma forma ligados ao objetivo maior.

     Enfim, a nova administração da UnB, que ainda não completou dois meses de gestão, está mostrando que acredita no importante papel a ser desempenhado pela educação a distância neste país.

     Estamos seguros de nossa competência. E aceitamos o desafio de transformar, cada vez mais e com múltiplos parceiros, o ensino a distância numa prática científica para oferta de qualidade a educação.

Queremos um Brasil melhor no terceiro milênio.

(*) Ex-Reitor da Universidade de Brasília e Secretário de Educação Tecnológica do MEC



Instituto de Pesquisas Avançadas em Educação

(  128 ) 04/2004