Clipping da Educação

Publicação do Instituto de Pesquisas e Administração da Educação
ISSN 1413-2648

ano 22 - nº 776 - 1 a 10 de outubro de 2011

 

Aumento de dias letivos é questionado

Aumentar os dias letivos como estratégia para melhorar o aprendizado dos alunos é um equívoco. A opinião é de especialistas da educação que respondem à proposta do governo federal, divulgada recentemente, de elevar de 200 para 220 os dias de trabalho escolar.

"Nessa medida, mais uma vez se repete o erro central da educação brasileira. Sempre se opta por fazer mais, e não melhor. É daí que criam mais séries, mais tempo, mais curso", diz João Batista Araujo e Oliveira, presidente do Instituto Alfa e Beto.
A ideia de aumentar o ano letivo surgiu a partir de um estudo do secretário de ações estratégicas da Presidência da República, Ricardo Paes de Barros.
Depois de analisar pesquisas nacionais e internacionais, o trabalho de Paes apontou que o aumento de dez dias no ano letivo poderia elevar o aprendizado do aluno em até 44% no período de apenas um ano.
O secretário citou exemplos de países como Japão, Coreia do Sul e Israel, que têm anos letivos de 243 dias, 220 dias e 216 dias, respectivamente.
Comparação. Acreditar que a realidade de outros países se repetirá aqui não é o correto, diz o economista e especialista em educação Ernesto Faria. "A comparação por si só não diz muito, mesmo porque, se olharmos a média de dias letivos dos países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), estamos na frente", diz.
O que acontece no Brasil, explica o pesquisador Naercio Menezes Filho, do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), é que há pouca eficiência da hora letiva.
"Do jeito em que estamos, aumentar os dias teria muito pouco efeito sobre o aprendizado. Hoje, das quatro horas em se que passa na escola, há um bom tempo que é gasto no recreio, na chamada e com a indisciplina. 0 professor brasileiro ocupa pouco tempo em ensinar e, por isso, na maioria das escolas o conteúdo programado não é cumprido."
Estudo recente do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), na sigla em inglês, por exemplo, mostrou que as salas de aula brasileiras são mais indisciplinadas do que a média de outros países avaliados.
Pesquisa feita pelo americano Martin Carnoy, professor de economia da educação da Universidade Stanford, nos Estados Unidos, mostrou que estudantes brasileiros passam a maior parte das aulas copiando instruções escritas na lousa pelo professor, não participam das atividades, ficam entediados e se distraem rabiscando no caderno ou conversando com colegas.
Prioridade. Para Ilona Becskeházy, da Fundação Lemann, aumentar os dias de aula é um erro de prioridade. "Em vez de propor uma política estruturante, o que se mostra é uma maquiagem", afirma.
O primeiro passo para o avanço da educação no País, segundo Ilona, é investir no melhor preparo do professor. "Ele chega com formação deficiente e já não sabe dar aula. Desse jeito, aumentar o número de dias é crescer o tempo improdutivo", avalia.
Para Ilona, somente com a garantia de um projeto pedagógico consistente é que vale a pena o acréscimo de tempo de estudo, mas não no formato proposto, de aumento do número de dias.
Ilona defende a educação integral: mais horas/aula diárias, com professores capacitados e que trabalhem em um só colégio. Com um vínculo mais estreito com o aluno, cresce a probabilidade de o estudante apresentar melhor rendimento escolar.
Até os custos diminuiriam nesse formato, diz João Batista, do Alfa e Beto. "É uma equação economicamente viável, porque se pagaria o tempo integral de cada profissional. Hoje, o diretor fica 11 horas dentro da escola e o professor não consegue se sustentar lecionando num período só."
Falta diálogo. Essa proposta do aumento de dias letivos, segundo Ernesto Faria, mostra o quanto se precisa avançar em estudos que unam pedagogos e economistas. "Fica cada um no seu canto e não se conversam." Os pedagogos ficam atrelados à formação que tiveram e, no Brasil, o curso de Pedagogia não traz abordagem econômica. E os economistas acreditam que não precisam do diálogo.
"A presença de um número pequeno de especialistas em educação que dominam a parte técnica faz com que esses economistas não necessitem pesquisar educação mais a fundo. Exemplo disso é que poucos são especialistas apenas em educação. Muitos analisam pobreza, renda e outras políticas públicas."
Um problema que se agrava ainda mais porque, segundo Faria, mesmo entre os pesquisadores de exatas existe pouco debate. "Se os especialistas das exatas não criticam possíveis erros de seus colegas, isso acaba sendo visto pelos especialistas das humanas como se fosse uma visão de todos. Quando não é."
O secretário Ricardo Paes de Barros informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que não falaria sobre o assunto.
 

Fonte: O Estado de São Paulo - 3 de outubro

(IPAE 163 – 10/11)

 

IMIGRANTES DIGITAIS

Quando Maria de Lourdes d'Andrade, 49, começou a dar aulas, em 1989, ela só contava com os livros, o quadro negro e a voz. As provas, reproduzidas por mimeógrafo, cheiravam a álcool e os celulares ainda eram muito raros.
Hoje, a professora de ciências da rede municipal do Rio lida com outra realidade. O giz virou pincel atômico, as aulas ganharam auxílio de TV, vídeo e computador; a internet, tão conhecida dos alunos, aos poucos começa a fazer parte de sua rotina.
Maria de Lourdes é de uma geração chamada de "imigrante digital": teve contato com os computadores já na fase adulta e, agora, procura se adaptar a esse mundo.
"Assim que eu comprei o computador, eu tinha medo de mexer", afirmou a professora que, alguns cursos de informática depois, diz estar à vontade com a máquina, mas sem a agilidade dos alunos.
Maria de Lourdes não está sozinha. Como ela, 64% dos professores de português e matemática de 497 escolas públicas brasileiras acham que sabem mexer menos no computador que seus alunos.
A constatação é da pesquisa Cetic.br (Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação) sobre a apropriação das tecnologias nas aulas feita com 1.541 professores, 4.987 alunos, 497 diretores e 428 coordenadores pedagógicos.
Para Adriana Martinelli, coordenadora de Educação e Tecnologia do Instituto Ayrton Senna, é um momento paradigmático na educação. Pela primeira vez, o papel do professor, como o único detentor do conhecimento, está sendo questionado.
"Alunos e professores transitam entre os papéis de ensinar e aprender, principalmente quando trabalhamos com as novas tecnologias".
NOVO ENSINO
Para Martinelli, as tecnologias de informação trazem a necessidade uma nova forma de ensino. "É preciso que a inovação pedagógica acompanhe a tecnológica", disse.
Dados da pesquisa trazem um diagnóstico preocupante nesse quesito: as atividades em que os professores mais usam tecnologia são as que têm o centro no docente, sem interação, como exercícios de fixação e aula expositiva.
"A educação tem que ser cada vez mais trabalhada no sentido de partilhar", diz Marc Prensky, educador americano autor dos termos "imigrantes" e "nativos digitais".
Na busca por usar a tecnologia a seu favor, a professora Elayne Stelmastchuk, de Nova Fátima (360 km de Curitiba), propôs aos seus alunos da escola estadual Dr. Aloysio de Barros Tostes a criação de blogs temáticos. O sucesso foi tanto que outros alunos também resolveram criar blogs voltados para o estudo.
"Eles estão aprendendo que internet não é só Facebook e MSN. Estão usando a rede também para estudar."
LIMITAÇÕES TÉCNICAS
Se a questão geracional pode ser um desafio na adoção das tecnologias na prática pedagógica cotidiana, a pesquisa aponta outro vilão para apenas 18% dos professores usarem a internet na sala: a falta de equipamentos adequados na rede pública.
Nas escolas participantes, havia, em média, 23 computadores à disposição dos alunos, dos quais 18 em funcionamento. Pelo censo escolar 2010, há 800 estudantes por escola. Cruzando-se os dois dados, dá a média de 44 alunos por computador.
Entre os professores pesquisados, 86% disseram que o pequeno número de máquinas atrapalha o uso da tecnologia no cotidiano. Apenas 4% das escolas têm computador em sala de aula -86% estão em laboratórios.
 

Fonte: Folha de São Paulo – 3 de outubro

(IPAE 164 – 10/11)

 

Tecnologia na educação

O uso de novas tecnologias na educação tem o potencial de elevar o aprendizado e tornar a escola mais atrativa, contribuindo para o aumento da frequência. Ainda não está claro como essas tecnologias podem ser utilizadas de forma efetiva, mas experiências inovadoras têm apontado alguns caminhos.
Na última década, vários países, como Estados Unidos, Inglaterra, Israel, Itália e Holanda, implantaram políticas de incentivo à adoção de computadores e acesso à internet nas escolas públicas. No entanto, os estudos em geral não encontraram impactos significativos no desempenho dos alunos.
As evidências empíricas para países em desenvolvimento, embora ainda limitadas, são mais positivas. Um estudo de Abhijit Banerjee e co-autores, "Remedying Education: Evidence from Two Randomized Experiments in India", realizou um experimento aleatório em escolas primárias urbanas da Índia para avaliar um programa de uso de computadores na aprendizagem.
Em metade das escolas, duas horas por semana passaram a ser dedicadas a jogos educacionais no computador, com ênfase em competências básicas do currículo de matemática. O programa envolvia a resolução de problemas progressivamente mais difíceis, de modo que os alunos avançavam de forma diferenciada.
Os autores mostraram que o programa teve um impacto elevado nas notas de matemática. Os ganhos foram expressivos não só para os melhores alunos, mas também para aqueles que tinham dificuldade prévia em matemática.
Um grande desafio no ensino em turmas heterogêneas é fazer com que o conteúdo lecionado seja estimulante para os melhores alunos e ao mesmo tempo acessível para os alunos com dificuldades.
O caráter inovador da experiência da Índia foi usar o computador e um software educacional de modo a adaptar o ensino de acordo com as características de cada aluno.
Um experimento que tem gerado controvérsia utiliza softwares educacionais de uma organização sem fins lucrativos chamada Khan Academy para reverter os métodos tradicionais de ensino.
Nesse modelo, iniciado ano passado em algumas escolas públicas da Califórnia, as aulas expositivas são dadas através de vídeos disponibilizados na internet e os deveres são resolvidos na sala de aula. Além disso, os professores têm acesso a um sistema que permite acompanhar em tempo real o progresso dos alunos na resolução dos exercícios.
É cedo para avaliar se o uso de novas tecnologias na educação resultará em uma ferramenta adicional ou se mudará de forma radical a forma de lecionar. Mas o caminho na direção de torná-las mais úteis parece estar sendo finalmente trilhado.
 

Fonte: Folha de São Paulo – 3 de outubro

(IPAE 165 – 10/11)

 

MINHA HISTÓRIA MARCO AURÉLIO RAYMUNDO, 62

SURFE TIPO EXPORTAÇÃO
(...) O médico gaúcho só queria surfar. Acabou criando a maior empresa nacional do esporte
RESUMO Referência entre os surfistas, a Mormaii exporta para 70 países e tem sua marca estampada em dezenas de produtos, como relógios, roupas, calçados e óculos, entre outros. Seu faturamento aumentou de R$ 30 milhões para R$ 350 milhões em dez anos. Hoje, as exportações representam 10% das receitas da marca, que está presente em 22 mil pontos de venda multimarcas no país.
Não tinha pretensões de virar empresário. A roupa de borracha, que foi a origem da Mormaii, partiu de uma necessidade pessoal.
Antes, só se surfava no verão. Decidi fazer uma roupa para surfar na água fria de Garopaba (SC). A produção das primeiras roupas era totalmente artesanal.
Começou comigo e com a minha mulher costurando na garagem de casa.
Mais adiante, meus pacientes portadores de hanseníase passaram a ajudar.
Depois, meus amigos começaram a buscar as roupas. E aí me toquei de que isso podia ser uma saída para gerar emprego e melhorar a vida da comunidade.

CAMINHO
Sou gaúcho, de Porto Alegre. Comecei a surfar com 14 anos, em Torres (RS), com os pioneiros do esporte no Rio Grande do Sul, os irmãos Klaus e Jorge Gerdau Johannpeter, da siderúrgica Gerdau.
Eu me formei em medicina pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, aos 24 anos, e vim para Garopaba. Virei o primeiro médico fixo da região, em 1974.
Já visitava a cidade desde os anos 60, trazendo remédios para a comunidade. Meu objetivo era ajudar na saúde da população.
Tem médico recém-formado que vai para a Amazônia. Eu decidi vir para Garopaba.
A cidade era uma vila de pescadores, sem água encanada e energia elétrica.
Minha geladeira funcionava a querosene e a luz era de lampião.
Durante dez anos, atuei como médico. Surfava nas horas vagas.
Acho que a medicina só resolve parcialmente a situação. Normalmente, a base dos problemas é econômica. Passei a fazer mais diferença para a comunidade como empresário.
Você trata uma doença e seis meses depois ela volta por falta de higiene, má alimentação e, principalmente, por falta de educação.

COMPETIÇÃO
Atualmente, o nível de competição das marcas de surfe é tão grande quanto o da indústria automotiva.
Há um mês, lançamos uma roupa de borracha sem zíper, a primeira do mundo. Mas o desenvolvimento de produtos não para.
Você "acaba" de lançar um produto e já está com mais três ou quatro em desenvolvimento.
Neste mundo tão acelerado, se você comer mosca, será atropelado. Por isso, faço o registro da patente.
A concorrência ainda não lançou um produto igual, mas, se não ficar esperto, daqui a pouco eles vão aparecer com o mesmo produto e ainda dizem que foram eles que inventaram.
Acho que o mais importante é criar produtos bons, que ajudam as pessoas a ter uma vida melhor. No meu caso, facilito a vida da galera que gosta do surfe.
Garopaba é hoje uma cidade próspera e ganha muito dinheiro com o turismo. Acabei atingindo o objetivo de ajudar minha cidade sendo empresário.
Entendeu a jogada? É um troço meio doido..
 

Fonte: Folha de São Paulo – 3 de outubro

(IPAE 166 – 10/11)

 

Onde cortar

O debate em torno do financiamento da saúde pública caminhou, mais uma vez, para uma disputa entre duas opções ruins -e, infelizmente, não excludentes.
Entidades e congressistas ligados ao setor defendem a retomada do texto aprovado em 2008 pelo Senado, cuja principal inovação é obrigar a União a destinar um mínimo de 10% de suas receitas a ações e serviços definidos em lei.
Governos federal e estaduais, em meio a desmentidos e recuos táticos, insistem na tese de que é indispensável criar um novo tributo para amparar a elevação dos gastos.
A primeira ideia significa engessar ainda mais as despesas públicas, já sujeitas a um cipoal de regras e vinculações obrigatórias que estreitam a margem de manobra da administração e embotam a renovação de prioridades. A segunda, aumentar não apenas o tamanho mas também a complexidade de uma carga tributária exagerada para um país de renda média.
Diante de tais proposituras, não é de lamentar o desacordo entre os que não abrem mão de mais receitas e os que não querem enfrentar o desgaste de impor novas taxações tão perto de um ano de eleições municipais. Melhor ainda, o impasse não é motivo para que deputados e senadores se eximam, desde já, de fixar o montante adequado de recursos para a saúde.
A via mais correta só não é óbvia porque o Legislativo brasileiro até hoje não assumiu de fato uma de suas prerrogativas mais elementares: plenos poderes para analisar, questionar e reformular, com a palavra final, o Orçamento da União.
Bem a propósito, o projeto de lei orçamentária para 2012 tramita no Congresso com R$ 80 bilhões para a saúde. Para atingir o patamar de 10% pleiteado, seriam necessários mais R$ 35 bilhões, considerada a atual estimativa da receita. Mais produtivo que empunhar bandeiras e percentuais cabalísticos será apontar quanto outras áreas poderão perder e como aplicar o dinheiro remanejado.
Há cerca de R$ 160 bilhões em despesas classificadas como não obrigatórias, incluindo todos os Poderes.
Dois terços dessa conta são compostos por educação, obras de infraestrutura, Bolsa Família e outras ações assistenciais. Nos programas de execução obrigatória, a maior possibilidade de corte seria a revisão do reajuste do salário mínimo em 7,5% acima da inflação.
O Congresso terá muito a amadurecer se finalmente tomar para si a tarefa de examinar e redefinir as prioridades orçamentárias, sob pressão política legítima e transparente. A sua infância legislativa tem consistido em referendar a proposta do Executivo, acrescida de obras paroquiais e queixumes posteriores contra o baixo aproveitamento de suas emendas.
 

Fonte: Folha de São Paulo – 3 de outubro

(IPAE 167 – 10/11)

 

ESCOLA FORA DE ORDEM

Você abre a apostila de português de Caio*, 16, e o primeiro exercício é sobre a música "Fora da Ordem", de Caetano Veloso. A pergunta: "O que lhe parece estar fora de ordem ao seu redor?".
Por onde começar? "Aqui não se chama escola, não. É Febem", compara Rita*, 12.
Ela diz, e os colegas ecoam, que "tá tudo errado" na Escola Estadual Bibliotecária Maria Antonieta Ferraz, em Cidade Tiradentes, no extremo da zona leste de São Paulo.
Por lá, faltam segurança, professor, sala de informática. Carteiras estão quebradas e alguns banheiros não têm porta nem papel higiênico.
O banheiro é apelidado de "chaminé" e "cracolândia". Segundo uma mãe de aluno, que não quis se identificar, o uso de drogas no colégio é uma preocupação.
Das 897 escolas avaliadas na cidade de São Paulo, a Bibliotecária ficou com a pior nota no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) de 2010.
Com 25% de participação dos alunos, a instituição teve média de 463 pontos na prova, contra 749 da campeã, a Vértice (85% de presença), localizada no Campo Belo, zona sul da cidade.
Os estudantes da Bibliotecária querem ser advogados, dentistas, jornalistas. Por ora, não põem fé que isso vá acontecer. "A gente fica com vergonha de dizer que estuda aqui", diz Rebeca*, 16.
Vários são aprendizes no McDonald's. Eles se chamam de "McEscravos" e, por salários de até R$ 500, atendem clientes, fritam hambúrguer e digerem uma jornada dupla de escola + trabalho.
Às vezes, o dia puxado desce mal. Foi o caso de Bia*, 16. "Já saí do trabalho às 22h. É difícil ter pique de manhã. Aí os professores falam que, assim, a gente nunca vai ser nada."
Certo dia, Rebeca foi dormir tarde e chegou "cansada, descabelada, às 7h" para a aula. "Mas o professor faltou, e outro colocou um vídeo do Pato Donald para a gente assistir."
Sim, eles pagam o pato pelas deficiências na escola. Os estudantes, contudo, admitem que não dão moleza para professores e direção.
"A gente bagunça mesmo", diz Caio*, 15. Na saída, é como em qualquer outro colégio. A maioria tem celular e curte grifes: pululam versões piratas de Adidas e Nike.
Ao escurecer, a porta da escola "parece um baile funk", diz Rebeca. Ela suplica: "Doe um fone para um funkeiro!".
Na Bibliotecária, a média é de quatro horas e meia de aula diárias-escolas de elite têm até o dobro disso, além de um intensivão para preparar o aluno para o vestibular.
A posição na rabeira do Enem virou piada. Alunos riem dos dados. Dizem que lá "não é lugar de nerd". Para ser "cabeça" que nem o Igor*, 16, basta ter média acima de 6.

* Nomes fictícios
 

Fonte: Folha de São Paulo – 3 de outubro

(IPAE 168 – 10/11)

 

A UNE e a pauta da educação pública

Dentre as organizações sociais brasileiras, o movimento estudantil é, a um só tempo, a mais tradicional e a mais renovada. Aproximando-se dos seus 75 anos, a União Nacional dos Estudantes (UNE) chega à segunda década deste século consciente dos temas realmente prioritários para o presente e para o futuro das pessoas e do país.
Em artigo publicado nesta Folha no último domingo, o companheiro do Centro Acadêmico XXII de Agosto da PUC-SP elogia o histórico de lutas da UNE e sua importância para a democracia brasileira. No entanto, diz ser necessário que a entidade "retome para si a responsabilidade de lutar pelas causas nacionais, no geral, e pela melhoria do ensino, em particular".
Não há como entender a crítica do colega de lutas no ano em que promovemos uma enorme mobilização em defesa da educação pública: a reivindicação da destinação ao setor de 10% do PIB e de 50% do fundo social do pré-sal.
Esse foi o tema do 52º Congresso da UNE, em julho, cujo processo eleitoral envolveu mais de 1,6 milhão de estudantes, de 97% das universidades do país e perfis diversos, filiados ou não a partidos políticos.
Também foi o mote das manifestações e atos públicos do Agosto Verde e Amarelo. Foi ainda sob a mesma pauta que se deu a Marcha dos Estudantes, no dia 31 do mesmo mês, com 12 mil jovens em Brasília.
As reivindicações da UNE são fruto do debate plural e amadurecido da entidade. Há consenso na sociedade brasileira sobre a necessidade de ajustes no Plano Nacional de Educação (PNE), que deverá ser votado pelo Congresso nos próximos meses e que sugere ampliação dos investimentos públicos no setor para apenas 7% do PIB até 2014. Esse percentual é insuficiente.
Os investimentos defendidos pela UNE serão cruciais para erradicar o analfabetismo, melhorar a estrutura e a qualidade das escolas, aumentar o salário dos professores, alcançar um ensino de excelência tanto nas metrópoles quanto nas zonas rurais, promover o esporte e a cultura no ambiente escolar, além de democratizar o acesso e ampliar o investimento na universidade.
O movimento estudantil brasileiro sabe que essa é a verdadeira prioridade. Investir mais na educação é o único caminho para superar problemas históricos, combater a desigualdade, distribuir renda, gerar conhecimento, vencer a pobreza e os preconceitos de todos os tipos, atacar a corrupção, valorizar a política e a ética em todas as relações.
No último dia 7, a UNE divulgou carta aos estudantes. O documento pede a aprovação da reforma política ampla, que fortaleça a democracia e a participação popular e combata a corrupção e o privilégio de poucos. Aliás, combater a corrupção é um processo permanente, só efetivo com a educação do povo.
Ciente de sua responsabilidade histórica com o Brasil, a UNE agora amplia sua campanha lançando um abaixo-assinado em seu site ( www.une.org.br ) pedindo a contribuição dos milhões de brasileiras e brasileiros na reivindicação dos 10% do PIB e dos 50% do fundo social do pré-sal para a educação.
Convidamos as organizações e cada cidadão em particular para ajudar no recolhimento de assinaturas e fazer parte desse movimento.

Fonte: Folha de São Paulo - 3 de outubro

(IPAE 169 – 10/11)

 

Nada se compara à universidade americana, diz FHC

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse nesta segunda-feira que o modelo americano de universidade é o melhor do mundo. "Nada se equivale à universidade americana", disse, em palestra organizada pela Fundação Estudar para divulgar Yale a estudantes brasileiros. Para FHC, a principal vantagem das instituições dos EUA é estarem conectadas a empresas e governos. "Lá, as universidades levantam pontes com o mundo empresarial e com a administração pública, e reconhecem que as boas ideias também podem vir de fora. No Brasil, a universidade é um bunker com medo de ser comprada pela empresa ou cooptada pelo governo", afirmou. "Assim, não cumpre sua função social maior, que é a de formar lideranças."
Pouco antes de fazer a palestra, em entrevista ao Estadão.edu, FHC fez uma avaliação semelhante ao comentar a produção atual da USP. Disse que, ao menos na área de ciências humanas, vê um isolamento "muito grande". "Ficam discutindo livros sobre livros e não os processos reais que estão acontecendo", disse. "No meu tempo a universidade era mais de elite, mas acompanhávamos mais a vida social, política e cultural. Houve uma volta para dentro. O que é natural, porque a política hoje é de massas, ficou mais complicada", considerou. "A qualidade técnica pode ter avançado, mas a capacidade de produzir interpretações, viusões mais globais, acho que não." Confira a seguir os principais trechos da palestra para a Fundação Estudar.
"Aprender não é memorizar. É despertar a curiosidade e a capacidade de perguntar de maneira correta, o método. Quando me perguntam o que vale a pena ler, respondo: "Qualquer um que seja grande". E vejam como ele desenvolveu o raciocínio. Se sabe alemão, vá ler Kant, que é muito complicado. Senão, vá ler Descartes, é mais fácil. Ou então, vá ler os modernos, vá ler Popper. Leia e veja o percurso que o autor faz. O aluno precisa perguntar de forma sistemática e ter método, ter disciplina."
"Outra coisa fundamental na vida é imaginação, produzir o que ninguém produziu porque juntou o que não estava junto antes. São fundamentais na formação: disciplina, capacidade de fazer perguntas, buscar métodos para respondê-las e ter imaginação."
"Não adianta chegar e dizer: "Fiz isso". A experiência de liderança não pode ser de imposição. No mundo de hoje, ela envolve compreender, entender, motivar e ir junto com as outras pessoas. E vai ser crescentemente assim."
"A produção de conhecimento é cooperativa. Daí a imensa vantagem da universidade americana. Não há nada que se equipare à instituição "universidade" nos Estados Unidos. Porque ela não está isolada nem da empresa nem do governo. Ela levanta e suspende pontes com o mundo empresarial e o governo. Ela inova, cria, transmite essa criatividade e sabe que a criatividade também pode vir de fora. No Brasil, a universidade é um bunker com medo de ser comprada pela empresa ou cooptada pelo governo. E assim a universidade não cumpre sua função social maior, que é a de formar lideranças, formar modelos de conduta que são assimilados pela sociedade."
"No Brasil, a hierarquia [nas universidades] dificulta muita ver o que está acontecendo e inovar."
"O líder tem que discernir várias coisas ao mesmo tempo, tem que julgar. Ver o que está em jogo e é capaz de levar a reações em cadeia. Ninguém nasce com essa capacidade; é desenvolvida na escola. E quanto mais uma escola treinar isso, melhor."
 

Fonte: O Estado de São Paulo – 5 de outubro

(IPAE 170 – 10/11)

 

PF prende suspeita de atuar como 'dublê' de candidata em vestibular
 

A PF (Polícia Federal) prendeu neste domingo uma romena suspeita de usar documento falso para atuar como 'dublê' de uma candidata ao vestibular da Faculdade de Medicina de Petrópolis, na região serrana do Rio.
A estrangeira foi presa no período da manhã, durante a aplicação da prova do vestibular da faculdade no Cefet (Centro Federal de Educação Tecnológica) do Maracanã, zona norte do Rio. A PF não informou a quantia que ela faturava com a fraude.
O nome da romena não foi divulgado pela polícia. Segundo os investigadores, ela foi presa e encaminhada para a Superintendência da Polícia Federal do Rio, na zona portuária da cidade.
A PF afirma que a estrangeira poderá responder por estelionato. A verdadeira candidata, que também não teve o nome divulgado, será chamada a prestar esclarecimentos.
 

Fonte: Folha de São Paulo – 09 de outubro

(IPAE 171 – 10/11)

 

USP vai investir R$ 5 milhões em ensino prático

A Universidade de São Paulo (USP) lançou um projeto especial voltado para os laboratórios da graduação. A instituição vai investir uma verba de R$ 5 milhões para que os cursos desenvolvam a integração da teoria com a prática.
Com o novo programa, a ideia da universidade é melhorar a interação entre professores da USP e permitir que os alunos, junto com os docentes, desenvolvam projetos de pesquisas de relevância científica. Além disso, a USP quer que os cursos se autoavaliem e discutam suas práticas atuais.
O programa se chama Pró-Inovação no Ensino Prático de Graduação (Pró-IEP) e faz parte da política de valorização da graduação que a universidade está implementando. É a primeira vez que uma quantia tão grande de dinheiro é destinada à área.
"É o primeiro projeto da Pró-Reitoria de Graduação em que a concessão da verba não está vinculada proporcionalmente com o número de matrículas das unidades", afirma Telma Zorn, pró-reitora de graduação. "É um investimento no perfil típico da pesquisa que alguns cursos têm em potencial."
Segundo ela, o projeto é essencial no preparo dos alunos de graduação para o mercado de trabalho. "Não é possível formar um profissional apenas com a teoria", explica Telma. "A USP precisava dar um passo nesse sentido e isso tudo custa caro."
A verba será dividida por dez projetos de melhoria e inovação dos laboratórios dos cursos. Cada projeto deve custar, no máximo, R$ 500 mil. Eles serão selecionados por uma comissão constituída pela pró-reitoria de graduação e por membros externos ao Conselho de Graduação (CoG) - provavelmente, pró-reitores de outras universidades.
As unidades interessadas devem inscrever seus projetos até meados de dezembro. Em fevereiro, os selecionados devem ser divulgados.
Oportunidade. Para os cursos que têm diversas disciplinas que dependem dos laboratórios, o projeto da Pró-Reitoria de Graduação é um bom começo. Os professores ressaltam que, sem os laboratórios, os alunos não têm como realmente praticar o que foi ensinado - como é o caso da área de saúde.
"A habilidade manual e o atendimento ao próximo são treinados dentro dos laboratórios", afirma Atlas Edson Nakamae, supervisor técnico e científico dos laboratórios da Faculdade de Odontologia da USP. "É neles que ocorre o preparo do aluno para lidar com o público e com procedimentos cirúrgicos complexos, que demandam muita responsabilidade."
Além do preparo do profissional para o mercado de trabalho, os professores ressaltam o aspecto acadêmico dos laboratórios para a graduação. "É nesse ambiente que se dá a pesquisa e o desenvolvimento científico, além proporcionar o conhecimento interdisciplinar para os estudantes", diz Carlos Zibel Costa, professor do curso de Design da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo.
Informatização. O investimento nos equipamentos tecnológicos dos laboratórios, de acordo com os docentes, é outro ponto de extrema importância para os cursos.
"Temos sempre de estar nos atualizando e o uso de novas tecnologias é de extrema importância para isso, para os docentes e especialmente para os alunos", diz Kazuo Nishimoto, do Departamento de Engenharia Naval e Oceânica da Escola Politécnica.
Relacionamento. Os docentes dos cursos de graduação destacam que as aulas que ocorrem nos laboratórios reforçam a relação entre os professores e os estudantes.
"A interação é muito maior que em sala de aula", diz Jurandyr Ross, professor titular de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH ). "Quando o aluno vê a aplicação de tudo que aprendeu, ele se empolga." Ross destaca que, apesar de o curso ser da área de humanas, o uso dos laboratórios é intenso por conta, por exemplo, das imagens de radares e satélites.

Fonte: O Estado de São Paulo – 10 de outubro

(IPAE 172 – 10/11)

 

 

EXPEDIENTE


Clipping da Educação

Publicação decendial do Instituto de Pesquisas e Administração da  Educação

Exemplares arquivados na Biblioteca Nacional de acordo com Lei nº 10.944, de 14 de dezembro de 2004 (Lei do Depósito Legal).
ISSN (International Standard Serial Number) nº 1413-2648 conforme registro no Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia - IBICT (Centro Brasileiro do ISSN), vinculado ao Ministério de Ciência e Tecnologia.
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FICHA CATALOGRÁFICA

Clipping da Educação

- Nº 1 (jan. 1990). - Rio de Janeiro: Instituto de Pesquisas e Administração da Educação, 1990 - N.1 ; 29.5 cm - Decendial Publicação do Instituto de Pesquisas e Administração da Educação.
ISSN - 1413-2648