Educação via internet

 

Marco Silva (*)

A educação via internet vem se apresentando coo grande desafio para o professor acostumado ao modelo clássico de ensino. São dois universos distintos no que ser refere ao paradigma comunicacional dominante em cada um. Enquanto a sala de aula tradicional está vinculada ao modelo unidirecional "um-todos", que separa emissão ativa e recepção passiva, a online está inserida na perspectiva de interatividade entendida aqui como colaboração "todos-todos" e como "faça você mesmo" operativo.

Acostumado ao modelo da transmissão de conhecimentos prontos, o professor se sente pouco à vontade no ambiente digital que libera a participação dos aprendizes como co-autores da comunicação e da aprendizagem.

Prevalece ainda hoje o modelo tradicional de educação baseada na transmissão para memorização, ou na distribuição de pacotes fechados de informações ditos "conhecimentos". Há cinco mil anos a escola está baseada no falar-ditar do mestre e na repetição. Não é fácil sair desse paradigma para a interatividade, a não ser violentando a natureza comunicacional da nova mídia, repetindo o que faz na sala presencial.

No ambiente online o professor terá que modificar sua velha postura, inclusive para não subutilizar a interatividade própria do meio. No lugar da memorização e da transmissão, o professor propõe a aprendizagem modelando os domínios do conhecimento com o espaços abertos a navegação, colaboração e criação. Ele propõe o conhecimento em teias (hipertexto) de ligação e de interações permitindo que os alunos conduzam suas explorações.

De apresentador que separa palco e platéia, o professor passa a arquiteto de percursos, mobilizador das inteligências múltiplas e coletivas na experiência da co-criação do saber. E o aluno, por sua vez, deixa a condição de espectador, não está mais submetido ao constrangimento da recepção passiva, reduzido a olhar, copiar e prestar contas. Assim, ele cria, modifica, constrói e torna-se co-autor da aprendizagem.

Para não violentar esse aluno nem a internet, o professor precisa aprender com o webdesigner e não mais com o apresentador de TV. Enquanto esse velho conhecido é o narrador que atrai o espectador de maneira sedutora para sua récita, o informata constrói uma teia de territórios abertos a navegações e dispostos a interferências. O professor precisa perceber que a tela da TV é espaço de irradiação que só permite mudar de canal, enquanto a do computador é tridimensional e permite adentramento e manipulação dos conteúdos. Precisa perceber, enfim, que a TV é para assistir e o computador, para interagir, Assim emerge uma nova ambiência comunicacional – a cibercultura.

É preciso se colocar a par da cibercultura, isto é, da atualidade sócio-técnica informacional e comunicacional definida pela codificação digital (bits), isto é, pela digitalização que garante o caráter plástico, hipertextual, interativo e tratável em tempo real do conteúdo. A codificação digital permite manipulação de documentos, criação e estruturação de elementos de informação, simulações, formatações evolutivas nos ambientes ou estações de trabalho concebidas para criar, gerir, organizar e movimentar uma documentação.

O professor pode lançar mão dessa disposição do digital para potencializar sua sala de aula online. Ao faze-lo, ele contempla atitudes cognitivas e modos de pensamento que se desenvolvem juntamente com o crescimento da cibercultura. Ou seja, contempla o novo espectador, a geração digital.

Por não perceber a nova ambiência que emerge com o digital, o professor tenderá a manter em seus cursos via internet o mesmo modelo de ensino em que os conteúdos são distribuídos em sites educacionais estáticos, ainda centrados na transmissão de dados, desprovidos de mecanismo d interatividade e de criação coletiva.

Como diz o pesquisador do MIT, Paulo Blikstein, o paradigma permanece o mesmo. O professor é o responsável pela produção e transmissão do conhecimento. Assim, os cursos pela internet acabam considerando que as pessoas são recipientes de informação, e a educação continua a ser, mesmo na tela do micro, o que ela sempre foi: repetição burocrática ou transmissão de conteúdos empacotados. Se não muda o paradigma, a internet acaba servindo para reafirma o que já se faz.

(*) Especialista em Educação (in JB 23/12/02)

 


Instituto de Pesquisas Avançadas em Educação

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