Caminhos da Educação no Brasil

 

Como foi? Como é? Como será...

O Jornal Brasil em sua seção, Nas Páginas da História no dia 2 de janeiro de 2003, entre outras matérias, coloca a seguinte nota de um fato ocorrido há 110 anos, portanto, a 2 de janeiro de 1893 e que contribui para responder um pouco à indagação: Como foi?

Por decreto de 30 de dezembro modificou-se o regulamento do nosso estabelecimento oficial de ensino secundário.  Pelo novo estatuto, ontem publicado no Diário Oficial, o curso integral de estudos do Ginásio Nacional será de sete anos, constando das seguintes disciplinas: português, latim, grego, francês, inglês, alemão, matemática, astronomia, física, química, biologia, história natural, sociologia e moral, noções de economia política e direito pátrio, geografia, história do universal, história do Brasil, literatura brasileira e portuguesa, ginástica, evoluções militares, desenho e música.

Tal notícia permite perceber a complexidade e a amplitude do ensino, naquele momento. Quem tivesse o privilégio de freqüentar o Ginásio Nacional e soubesse tirar proveito de seus estudos teria, sem sombra de dúvida, em (7) sete anos, possibilidades de adquirir cultura geral.

A mesma sessão indica, 29 anos depois, ou seja, há exatamente 80 anos atrás, outro grande avanço em termos educacionais em nosso país.

Diz a notícia do dia 10 de dezembro de 1922, assinada por Everardo Bacheuser.

“Inicia-se no Brasil uma campanha contra os exames.  Chefiam-na alguns professores eminentes, a cuja frente está Afrânio Peixoto.  Mas outros mestres, não menos respeitáveis, manifestam-se a favor e, no embate havido no recente Congresso de Instrução, não houve vitoriosos.  Exercendo o magistério há muitos anos, cada vez mais me convenço do erro em julgar os estudantes só pelos exames.  O trabalho de um ou dois anos nos laboratórios, excursões, sabatinas, argüições, na palestra entre mestre e aluno é ainda o melhor método de julgamento.  Os maus estudantes não o querem, porém, porque é sempre mais fácil arriscar a ficha no baccarat do exame.  Aos professores, também, é menos penoso fazer o exame, uma rápida prova, do que todo o trabalho de corrigir sabatinas e relatórios.  E assim vão deixando correr o barco, na suave mansidão atual...”.


A leitura do texto dignifica idéias progressistas/construtivistas na Educação, comprovando que os pedagogos deste século tem suas razões para defender uma “avaliação” que se sustenta no processo ação/reflexão/ação, como a única forma de transformar a avaliação em instrumento de construção de conhecimento e não apenas em mais um requisito a ser cumprido no decorrer do ensino/aprendizagem.  Fica bem claro no texto que avaliação não pode ser apenas uma “medida” e deve ser sim um “juízo de valor” sobre o que ou quem está sendo avaliado.

Porém, se continuamos a retroagir no tempo, encontra-se, mais recentemente, na sessão do jornal O Globo, que coloca sempre as notícias de 50 anos atrás, uma triste realidade que, durante muito tempo, foi uma constante no processo educacional brasileiro.

A notícia, veiculada em 17 de junho de 1952 diz o seguinte: É de pasmar que o ministro da Educação, Sr. Simões Filho, tenha julgado do seu dever assinar uma portaria como a de nº 501, cujos dispositivos nocivos mais salientes são: a) rebaixar a média de aprovação do ensino secundário de 5 para 4,6; b) permitir que os estudantes reprovados requeiram revisão de provas, o que até aqui não se admitia.  Outro ponto inqualificavél da portaria é o que respeita ao exame de admissão aos ginásios.  Até aqui eram matérias eliminatórias no exame a matemática e o português, indiscutivelmente as duas bases indispensáveis a todo o ensino de nível médio.  Pois o ministro houve por bem abolir o efeito eliminatório dessas duas disciplinas: qualquer candidato reprovado em matemática ou português poderá, de hoje em diante, ingressar no ginásio graças a uma nota melhor em geografia ou história!

Ora, tal notícia que provocou indignação, não fica longe do que tem acontecido, nestes últimos 50 anos, principalmente no que se refere à questão do vestibular “classificatório”.  Todos temos conhecimento de casos de estudantes que obtém boas notas nas disciplinas consideradas de maior peso na carreira em que pretendem ingressar mas, como não conseguem média (por obter menor nota em conteúdos que lhe são menos familiares) ficam fora da universidade.

Conheço um caso, de um candidato à Medicina, que obteve notas superiores a oito (8) em Português, Matemática, Biologia e Física, mas fracassou em Geografia e História sendo por isso, preterido por outros candidatos que conseguiram se manter na média, em tudo.  Isto define o Como é.

Talvez a recente declaração do atual Ministro da Educação Cristovam Buarque “quem souber Matemática e Português aprende qualquer coisa”, referindo-se às mudanças que já estão ocorrendo no vestibular, seja uma saída e nos traga respostas positivas ao Como será...

Em 30 de junho de 2003, o jornal da Educação, boletim diário do Instituto, veiculou a seguinte notícia:

Novidades já em 2004 na UERJ

O vestibular do jeito que a gente conhece está cada vez mais perto do seu fim.  O Ministro da Educação, Cristovam Buarque, já deixou claro que é contra o sistema atual e a cada ano as instituições adotam novas mudanças.  Agora o reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Aloísio Teixeira, propõe uma seleção mais “social”.

Para ele, é preciso derrubar a “barreira intransponível” que os estudantes carentes precisam enfrentar se quiserem estudar em uma instituição gratuita.  “Um aluno de escola pública que passou por greves e falta de professores e tira 6 no vestibular tem mais mérito do que um da escola particular que sempre teve acesso ao que há de melhor, como internet e livros, e tira 8”, acredita.

Seguindo esse critério, a nova avaliação deveria acompanhar o aluno da escola pública durante todo o ensino médio e, assim, selecionar aqueles que estão aptos e têm capacidade de se desenvolver.  “O novo processo de seleção tem de ajudar a diminuir essa desigualdade imposta pelo vestibular atual”.

Teixeira, que tomou posse na UFRJ há duas semanas, sabe que sua sugestão é trabalhosa e precisará de tempo.  “Acho que só daqui uns 10 anos teríamos o acompanhamento completo”, diz.  “Mas temos de começar e, no ano que vem, já queremos fazer um projeto-piloto com alguns colégios”.

Pela proposta, a universidade avaliaria os alunos que acabaram o 1º ano em 2003 e, em 2005, quando eles estiverem terminando o ensino médio, teria um raio-X geral de cada um.  “É o fim do vestibular tradicional, mas não das provas”, afirma Teixeira.  “E outras universidades, como a de Santa Maria (RS) e a de Brasília, também têm propostas parecidas”.

O reitor acredita que a avaliação contínua incentivaria a melhoria da rede pública.  “Também é papel da universidade se comprometer com esse processo”, diz.  “Vamos fazer a nossa parte oferecendo material e formando professores”.


O Instituto de Pesquisas Avançadas em Educação, espera que estes fatos, que se constituem em momentos históricos na trajetória da Educação em nosso país, possam servir de análise e reflexão a todos os nossos leitores sobre o papel do educador neste Como será...

 

Direção Geral do Instituto de Pesquisas Avançadas em Educação

 


Instituto de Pesquisas Avançadas em Educação

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07/03


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